Sobre

Não bebo café de saco todos os dias. Se o fizesse perderia toda a sua essência. No entanto, esta reconfortante bebida é um pedaço importante da minha vida, talvez pelas razões, poderão julgar vós, mais atípicas e singelas.
O café de saco acompanhou-me em momentos da minha infância, momentos de gáudio mas também de melancolia, e continua evidente nas estâncias mais agradáveis do meu presente, de forma pontual, instável, mas com o seu devido propósito.

Recordo-me com particular pormenor e satisfação as férias que costumava passar, com muita maior frequência do que agora, em casa dos meus avós paternos, em Espanha. Numa vila em constante desenvolvimento, sentia-me, porém, protegido naquela que ainda hoje considero uma atmosfera bucólica. Aí, memórias emocionantes, daquelas poucas que me conseguem arrancar uma ou duas lágrimas de nostalgia, remetem-me à imagem da minha avó, na altura mais alta que eu, que, no seu eterno labor culinário, preparava lanches e pequenos-almoços fartos, calorosos, servidos com amor, brindados com boa-disposição e acompanhados com aquele vislumbre negro do café de saco, saído fervente da cafeteira metálica.
Cá, em Portugal, em casa dos meus queridos tios-avós, que aqui não importa saber-se quem, de facto, são, o processo é diferente: aquecida até ao ponto de ebulição no fogo, a água borbulhante recebe colheradas bem cheias de "cafezito", como a minha tia lhe costuma chamar. Com uma colher, mexe suavemente a solução, a qual passa, de seguida, por um filtro de flanela e escorre para uma cafeteira vítrea. Na mesa da cozinha, onde o compartimento de chão rangente tem um constante ambiente limpo, há sempre pão, marmelada caseira que a tia faz com os marmelos do seu próprio pomar, manteiga, bolo, sábias palavras do tio, café e leite, onde lá, com especial particularidade, sabem bem juntos.

O café é um convite para um lanche, uma proposta para uma saída, um pretexto para uma agradável conversa. Toma-se o café, descafeinado, expresso ou de saco, põe-se um cigarrito nos lábios, molha-se um biscoito, deglute-se um pastel... É a companhia da partilha de vivências, da abertura do portal dos acontecimentos, acaba por se tornar no arquétipo da vida e do conforto.

Neste Café de Saco poderão, à semelhança daquilo que acontecia no meu antigo blogue, contar com diversas formas de comunicação e, por conseguinte, vários temas distintos, entre os quais as ciências, na linha da História Natural; as vivências, acontecimentos de hoje e de ontem, partilha de trabalhos e saberes; e, como não poderia faltar, de maneira nenhuma, o bom repasto, receitas culinárias, doces, agridoces e salgadas, sem Bimby nem bimbos, mas com amor à panela e a cada um dos ingredientes.


As ilustrações que contemplam a estrutura deste blogue são exclusivas, elaboradas com gosto e perícia pela minha amiga e artista Sandra Correia. Resta-me, por isso, agradecer-lhe, e fazê-lo também, com especial amizade, à Mariana Reis, dona e senhora da parte técnica deste nosso espaço. Obrigado a todos os meus caríssimos leitores!

 

7 comentários:

  1. Muito bem pensado, muito bem explicado e muito bonito! Vai ser mais uma maravilha para passearmos por aqui! Obrigada Pedro pelas partilhas que ensinam, encantam, abrilhantam e enchem a vida e acima de tudo a alma e o coração! Beijinhos extensivos à(o)s amiguinha(o)s

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  2. Querida Amiga, muito grato pelas suas amáveis palavras!
    Um forte abraço cheio de amizade e gratidão.

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  3. Parabéns pelo teu blogue, parabéns pela tua sabedoria e parabéns por seres assim... E mais: OBRIGADA POR EXISTIRES!

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  4. Parabéns pelo blogue, pela escolha do nome e principalmente pelo entusiasmo com que é realizado. Tb adoro café de saco e ainda permanece na minha memória o cheirinho matinal a café com tosta bebé! Muito sucesso .

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    1. Obrigado pela sua partilha, caro "Anónimo". Visite-nos sempre que possa.

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  5. Caro Pedro este blog está o máximo. A ilustração está sublime e os textos como sempre, apesar que ainda não os li todos, estão brilhantes. Infelizmente só pude vir aqui agora pois como emigrado por vezes sucedem-nos alguns imprevistos, mas tenho a agradecer-lhe principalmente este texto que me remete à minha infância quando a minha mãe preparava a cevada de manhã e depois lá ia eu ter com os amigos para uma partida de bola, depois voltavamos para minha casa e tinhamos café com leite e pão com manteiga à nossa espera. Obrigado Pedro!

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    1. Amigo William,
      Muito grato pela sua partilha e pelas suas amáveis palavras.

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O autor deste blogue agradece a todos pela sua interacção nesta "casa".